Nesse post iremos abordar as principais questões que devem ser levadas em conta na hora de fazer o projeto do contrapiso ideal, para que o desempenho do revestimento em microcimento (cimento queimado) atinja seu potencial máximo. Os principais assuntos que veremos a seguir são:
Importante: As dicas contidas neste post não excluem a necessidade de um projeto específico que preveja as juntas de dilatação, o traço adequado, as espessuras necessárias e caimentos exigidos para cada situação.
O contrapiso é uma camada de argamassa cimentícia aplicada sobre lajes de concreto, com espessura entre 3cm e 6cm e com objetivo de conferir planicidade e regularizar o piso. É composto de água, cimento, areia e aditivos. A argamassa pode ser preparada na obra ou ser comprada pronta, já industrializada, pré-dosada e equilibrada. Por vezes o contrapiso contêm armação ou fibras estruturantes, além de britas ou pedriscos.
Em áreas molhadas o contrapiso também desempenha a função de conferir caimento para os ralos. É ele quem vai ditar o grau de inclinação do piso e consequentemente dos revestimentos instalados, facilitando assim o escoamento da água.
O principal para a bom desempenho de um contrapiso é uma boa aderência à laje, que ele seja firme, íntegro e apresente boa resistência, sem partes quebradiças, esfarelando e/ou soltando.
Para isso recomendamos pensar sempre nos 3 principais pilares de um bom contrapiso, que são:
Outras Dicas Importantes:
Evitar passar condutes e canos no contrapiso. Caso seja inevitável, analisar se o contrapiso possuirá profundidade suficiente pra comportar os mesmos.
O primeiro passo é sempre pensar na impermeabilização ANTES de executar o contrapiso. Em caso de piso térreo, em contato com o solo, o ideal é que a lage deve tenha sido feita já com barreira de umidade, usando materiais como lona plástica ou manta asfáltica antes da concretagem. Caso o contrapiso venha a ser aplicado em contato direto com o solo, esta barreira deve ser feita antes da aplicação do mesmo.
A ANAPRE recomenda a instalação de lona plástica entre a sub-base e o concreto. Para este uso é indicado uma lona plástica dupla com, no mínimo 200 micra de espessura. É importante que a lona esteja íntegra, sem furos ou rasgos, e seja transpassada em 30cm nas emendas. A impermeabilização já deve ser sido executada e testada antes do lançamento do contrapiso, caso contrário impermeabilizantes cimentícios semi-flexiveis podem ser usados sobre o contrapiso.
Para iniciar a execução do contrapiso, é necessário que o local de aplicação esteja completamente livre de sujeira e resíduos. A alvenaria deve estar finalizada e, caso haja impermeabilização no local, a mesma deve estar pronta e testada.
Para casos onde o contrapiso seja aplicado diretamente sobre a laje de concreto, recomenda-se lavar a laje com máquina de alta pressão.
Depois de limpar e lavar a área, o passo seguinte é fazer uma boa ponte de aderência entre a lage e novo contrapiso que será lançado. Para essa etapa utilizamos um primer de aderência, conhecido popularmente como água de amassamento, composto de uma solução de água, resina (PVA, látex ou acrílica), e polvilhamento de cimento (0,5 kg/m²).
Essa mistura deve ser distribuída no piso com uso de uma vassoura. A princípio, a ponte de aderência é aplicada apenas sob os pontos a receberem as taliscas. Após o posicionamento das taliscas deve ser aplicada a água de amassamento no restante do piso, para logo em seguida ser lançada a argamassa. É importante que a ponte de aderência seja lançada em etapas, e que seja toda preenchida com a argamassa de contrapiso antes de 20 minutos da mistura do cimento.
O traço da argamassa do contrapiso é variável de acordo com o projeto, para o nosso propósito, o traço mínimo é de uma medida de cimento para três de areia (1:3) e a espessura varia de 2cm a 6cm, dependendo das necessidades especificas do projeto.
O uso de tela ou macrofibras deve ser avaliado pelo projetista. A tela pop soldada é normalmente utilizada em contrapisos acima de 5cm e posicionada no terço superior do mesmo. Nós recomendamos o uso da macrofibra sintética estrutural como uma forma segura e fácil de substituir a tela, mesmo em contrapisos com menor espessura.
Após a limpeza da laje, deve-se analisar o projeto com as cotas de piso acabado, mapear a área com o uso de nível e definir a cota para execução das taliscas.
Sobre as taliscas: As taliscas são as guias que ajudam a delimitar a espessura e nivelamento do contrapiso. Elas devem ser quadradas, feitas de azulejo (15×15 cortado em 6 partes iguais) e precisam ser posicionadas com distância entre 1,50 a 2 m entre cada talisca. Nos cantos e próximas aos ralos é importante formar planos com o caimento desejado. O caimento é obtido através do posicionamento das taliscas em níveis diferentes. Não use madeira ou tijolos para as taliscas e lembre-se de sempre usar um primer ou água de amassamento para criar e fixá-las.
Sobre as mestras: O próximo passo é formar as mestras, que são faixas de argamassa que servem de marcação para o assentamento nivelado do contrapiso. São as mestras que servem de referência para que o preenchimento do contrapiso siga o mesmo nível o caimento previsto em projeto na hora do posicionamento das taliscas. Lembre-se de sempre usar um primer ou água de amassamento para criar as mestras. As mestras devem ser executadas entre duas taliscas, espalhando a argamassa selecionada para o seu contrapiso com o auxílio de uma enxada numa quantidade que sobreponha a altura das taliscas. Com o auxílio da régua de alumínio, nivele e compacte a argamassa excedente até que a mestra fique no mesmo nível das taliscas. Após a mestra executada deve-se retirar o azulejo ou cerâmica das taliscas e preencher com argamassa, deixando o mesmo acabamento nesse ponto como nos demais. É necessário repetir esse procedimento entre todas as taliscas previstas no ambiente.
Taliscas e mestras posicionadas, material pronto e equipe preparada? Agora é a hora de lançar a argamassa do contrapiso. Caso a ponte de aderência esteja seca, refaça o processo para garantir que o contrapiso venha a ficar aderido ao substrato. Lembre-se que as taliscas e mestras devem ser executadas imediatamente antes da execução do contrapiso. NÃO se deve deixar taliscas e mestras prontas de um dia para o outro para evitar fissuras e descontinuidade no trabalho.
Lançando a argamassa: Lançar novamente a argamassa de contrapiso sobre o restante da área, espalhando com uma enxada até ultrapassar o nível das mestras e compactar com o soquete, para garantir a resistência do contrapiso. Se após o término da compactação a camada ficar abaixo do nível das taliscas, deve-se acrescentar mais argamassa e compactar novamente.
Acabamento: Para o acabamento, deve-se umedecer a superfície com água e sarrafear toda a área com a régua de alumínio cortando a argamassa até o nível das mestras. Em seguida desempene toda a área com desempenadeira de aço ou alisadora de concreto motorizada, deixando o acabamento completamente uniforme. É ideal que o contrapiso seja feito de maneira continua para se evitar trincas. Caso haja a necessidade de uma parada técnica, uma cola epóxi tipo Sikadur 32 ou similar deve ser usada para “colar” as áreas descontinuadas.
Evite conduítes e encanamento sob o contrapiso, para diminuir o risco de fissuras. Caso tenha que usar, não faça somente uma proteção mecânica ao redor do conduíte, execute o cobrimento dos mesmos em conjunto com a execução do contrapiso.
As juntas de dilatação correspondem a cortes criados na concretagem, com o objetivo de possibilitar que a expansão térmica ocorra sem causar trincas o piso. São elas que garantem maior flexibilidade aos pisos de concreto, uma vez que o cimento dilata com o calor e contrai com o frio, causando assim movimentações indesejadas. As juntas de dilatação devem ser previstas em projeto e especificadas pelo engenheiro responsável da obra.
A cura úmida é uma técnica que ajuda a conservar a umidade do contrapiso após o lançamento do mesmo, com o objetivo de evitar o surgimento de fissuras e trincas, além de melhorar a qualidade do resultado final.
Neste processo é necessário manter a superfície do concreto com água por 7 dias, ajudando a evitar que a evaporação da água presente na argamassa do contrapiso ocorra de forma acelerada, evitando assim o ressecamento e esfarelamento da superfície. A melhor cura úmida é atingida com o uso de manta geotêxtil, mas uma maneira mais simples de usar essa técnica é simplesmente molhar com uma mangueira o seu contrapiso uma vez ao dia. Este pequeno detalhe pode fazer uma grande diferença na qualidade do contrapiso.
É importante lembrar que deve-se respeitar um período mínimo de 48 horas sem trânsito sobre o contrapiso, evitando comprometer seu acabamento. Para aplicação de revestimentos sobre o contrapiso, aguardar o período desejável de 28 dias. Após este período de cura, as trincas que surgirem devem ser tratadas.
OBSERVAÇÃO FINAL:
Este post não tem como objetivo substituir o acompanhamento técnico nem o cálculo das forças e solicitações de cada projeto. Este deve ser feito por engenheiros, projetistas e calculistas qualificados. Um resultado de sucesso é atingido com um projeto adequado, escolha de materiais criteriosa e uma execução de responsabilidade feita por profissionais.
DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA:
NR-18 (Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção);
Projetos de Arquitetura.
NBR 12.260:2012 – Execução de piso com argamassa de alta resistência mecânica — Procedimento
NBR 15575-3:2013 – Edificações habitacionais — Desempenho – Requisitos para os sistemas de pisos